Vi no passado dia 22 Março na RTPN um documentário no qual se descrevia a actual situação ambiental na China.
O rápido desenvolvimento da China, frequentemente descrito como um milagre económico, tornou-se um desastre ambiental. O crescimento recorde necessariamente requer um consumo gigantesco de recursos, mas na China o uso de energia tem sido particularmente "sujo" e ineficiente, com graves consequências para o ar, terra e água do país.
Venho utilizar este blog para vos relatar este documentário, pois acho necessário que todos tenhamos conhecimento do impacto brutal que a poluição tem e terá nas nossas vidas. Não posso deixar de vos dizer que há na China pelo menos uma cidade, em cujo nível de poluição causado pela emissão de fumos das fábricas locais é de tal modo excessivo que a população residente só tem 144 dias límpidos por ano. Aliás, dizia o comentador que foi de resto um progresso significativo pois entre 2007 e 2008 houve um aumento de 40 dias límpidos por ano naquela zona. É de ficar boqueaberto!
A má utilização de resíduos, o não tratamento das águas residuais, a emissão constante de excessivos fumos derivados da utilização em grande escala do carvão, principal matéria prima da zona, e o não cumprimento das medidas de segurança ambiental e de protecção por parte destas industrias, são as principais causas dos permanente ‘negros e cinzentos dias’ que se vivem naquela cidade.
Cerca de 60% da população, sofre de problemas cancerígenos, pulmonares, respiratórios, cardiovasculares e das mais variadas alergias, e alguém com autoridade e legitimidade faz alguma coisa? Não! Porque muitos deles detêm acções nas indústrias locais e encobrem, como de resto todos sabemos, situações ilegais e manipulam o poder…
O solo na China tem sofrido também os efeitos de um desenvolvimento sem limites e a negligência do ambiente. Séculos de desflorestação acompanhados de pastoreio intenso e sobrecultivo das terras aráveis, deixaram grande parte do norte e noroeste da China seriamente degradado. No último meio século, ainda por cima, as florestas e terras agrícolas tiveram que dar lugar às tais indústrias e às cidades em expansão, resultando na diminuição dos rendimentos das colheitas, na perda de biodiversidade e em alterações climáticas locais.
Mais de 75% da água dos rios que passa por áreas urbanas é considerada imprópria para beber ou pescar, e o governo chinês considera cerca de 30% da água que corre pelos rios do país desadequada para a agricultura e a indústria. Em consequência, quase 700 milhões de pessoas bebe água contaminada com resíduos humanos e animais. Querem saber mais: a China já ultrapassou os EUA como maior contribuidor mundial de dióxido de carbono.
Pergunto: é este o cenário que queremos continuar a fazer questão de não ver, mas que será certamente visto e vivido pelas gerações futuras sobre as quais detemos alguma responsabilidade?
Se continuarmos a negligenciar os problemas ambientais e a ‘enfiar a cabeça na areia’ para não vermos as dimensões que esses problemas começam a tomar, senão começarmos a tomar medidas quer a nível social, a nível legislativo e a uma grande escala, então arriscamo-nos, nós que até vivemos num País “ à beira mar plantado” a ficar também só com alguns dias límpidos, poucos…
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