"As águas deslizam lentamente para o imenso estuário e as margens lodosas estão povoadas de garças, andorinhas-do-mar, gaivotas e outras aves aquáticas. A foz do Trancão parece cheia de vida e não há vestígios de mau cheiro na margem direita deste afluente do Tejo, onde um aprazível relvado se enche de gente ao fim-de-semana. Mas os dados do Instituto da Água (Inag) não deixam dúvidas: a qualidade da água do rio Trancão continua a ser classificada de "muito má", apesar das obras feitas desde a Expo 98."
"Apesar dessa classificação, a melhoria na qualidade da água do Trancão é imensa em relação ao passado recente, e há um usufruto do espaço envolvente pelas populações", reconhece Carlos Martins, presidente da Simtejo, empresa responsável pelo saneamento dos municípios da margem norte do Tejo. "Ainda há alguns episódios de descargas directas no rio quando os colectores não aguentam os caudais provenientes de chuvadas mais fortes ou os picos de utilização aos sábados de manhã, altura em que as pessoas fazem mais lavagens domésticas", afirma.
Todavia, os problemas maiores do Trancão têm sobretudo origem no concelho de Mafra. "São sobretudo as agroindústrias da região, porque algumas delas têm unidades de tratamento de efluentes que não são bem utilizadas e outras fazem mesmo descargas sem qualquer tratamento".
Como resolver? Através da concertação entre diversas entidades - autarquias, ministérios da Economia, da Agricultura e do Ambiente, Inag, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, etc.
E é possível encontrar uma data a partir da qual dar um mergulho nas águas do estuário do Tejo deixa de ser uma ameaça para a saúde? Quanto às descargas directas de esgotos domésticos sim. Os planos para a construção de novas ETAR e colectores para cobrir a totalidade das populações dos concelhos que cercam o estuário têm prazos bem claros. Há um ano-chave para a conclusão de todas as obras de saneamento à volta do estuário: 2011. A partir daí, ficam "apenas" por resolver, no essencial, as descargas agroindustriais não tratadas e as que resultam do tráfego marítimo no Tejo, onde as directivas ambientais europeias são cada vez mais exigentes.
In Expresso
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