Carbono, Porquê Parar?




Os números não mentem. Antes da Revolução Industrial, a atmosfera terrestre continha cerca de 280 partes por milhão de dióxido de carbono e era uma quantidade tolerável. Como a estrutura molecular do CO² retém junto à superfície do planeta calor que de outro modo, seria irradiado de volta para o espaço, a civilização cresceu num mundo cujo termóstato estava regulado para aquele valor. Correspondia a uma média global de 14ºC que, por sua vez, influenciou todos os espaços que se tornariam urbanos, todos as culturas agrícolas que exploramos, todas as provisões de água e até mesmo a passagem das estações.

A partir do momento em que começamos a consumir combustíveis fósseis, esse valor começou a subir, o valor encontra-se hoje a 380 e aumenta duas partes por milhão por ano[1]. Embora este aumento nos pareça irrisório, o calor adicional gerado que o CO² captura, é suficiente para aquecer muito o planeta. Provocámos já um aumento de temperatura de um grau e apesar de ser impossível de prever com exactidão as consequências de qualquer aumento suplementar de dióxido de carbono na atmosfera, o aquecimento registado iniciou o descongelamento de quase tudo o que havia congelado sobre a Terra, alterou as estações e os padrões de pluviosidade e provocou a subida dos níveis do mar.

Agora, independentemente do que façamos, esse calor irá aumentar, embora o efeito que essa subida produz demore a manifestar-se, ou seja, não podemos travar o aquecimento global! A nossa tarefa é menos inspiradora, cabe-nos refrear os danos, impedindo o descontrolo total. Nos últimos anos foram publicados relatórios que prevêem um aumento de 450 partes por milhão de CO² como limiar máximo que devemos respeitar. Ultrapassado esse valor, os cientistas crêem que os séculos futuros enfrentarão, provavelmente, o degelo da Gronelândia e da calota glaciária da Antártida ocidental e uma subsequente subida do nível do mar, de proporções gigantescas.

Levemos em conta que se as concentrações continuarem a aumentar duas partes por milhão por ano, só faltam três décadas e meia para atingirmos esse valor.
Face ao cenário apocalíptico, apenas europeus e japoneses começaram a reduzir marginalmente as suas emissões de carbono e talvez não cumpram as suas metas. Enquanto isso, as emissões de carbono dos EUA continuam a aumentar e a China e a Índia recrudesceram enormes quantidades de CO².

A solução capaz de impedir a catástrofe parecem ser os cortes rápidos, sustentados e drásticos nas emissões por parte dos países mais avançados tecnologicamente, aliados a uma transferência tecnológica de larga escala para a Índia, China e para o resto do mundo em desenvolvimento de forma a que esses países possam alimentar as suas economias emergentes sem queimar o seu carvão. É isto possível?

Stephen Pacala e Robert Socolow publicaram um artigo na revista Science descrevendo em pormenor quinze cunhas de estabilização – alterações suficientemente grandes para realmente fazerem a diferença e para as quais já exista tecnologia disponível ou iminente. São disto exemplo os carros com melhor eficiência de combustível, casas mais bem construídas, turbinas eólicas ou biocombustíveis como o etanol. Outras formas são mais recentes e menos garantidas: planos para construir centrais electroprodutoras alimentadas a carvão capazes de separar o carbono dos fumos de escape, de forma a retê-lo no subsolo.

Se substituirmos todas as lâmpadas incandescentes que se fundirem ao longo da próxima década em qualquer parte do mundo por uma fluorescente compacta, teremos um impressionante arranque numa das quinze cunhas, contudo nessa mesma década, teríamos de construir quatrocentas mil grandes turbinas eólicas – algo só alcançável com verdadeira empenho, uma vez que esta opção é infinitamente menos aprazível ao produtor e consumidor, que continuar a queimar combustível fóssil.

Como é evidente, nem todas as soluções são tecnológicas, muitas das vias para a estabilização interferem com as nossas vidas e exigem adaptações difíceis, caso das viagens aéreas, são uma das fontes de emissões de carbono que mais rapidamente crescem em todo o mundo, no entanto, o mais nobre dos consumidores que use lâmpadas fluorescentes e conduza carros híbridos, enervar-se-á com a ideia de não viajar de avião. Conduzimos carros com apenas um tripulante, porque nos é mais conveniente que ajustar os nossos horários por transportes públicos e vemos televisão em aparelhos cada vez maiores.

Os nossos hábitos carecem imperativamente de alteração e a única maneira de isso acontecer é, provavelmente, aumentar o preço real do combustível fóssil, alterando o sentido da atracção da gravidade económica no que diz respeito à energia. Aumentar o preço do dos combustíveis implicaria um aumento do imposto sobre o carvão e como todos necessitamos de combustível, a medida seria regressiva lesando as camadas mais pobres da população de modo que tal aumento teria obrigatoriamente de passar por uma redefinição de prioridades fiscais.

Em suma, o aquecimento global apresenta o maior teste que os humanos já enfrentaram. Estaremos prontos a mudar dramaticamente de modo a oferecer um futuro viável às gerações do futuro e às outras formas de vida? Em caso afirmativo, as novas tecnologias e os novos hábitos são prometedores, mas apenas se tomarmos actos conscientes e tivermos a maturidade que raramente demonstrámos em sociedade. É o nosso momento de amadurecimento e não há certezas ou garantias, apenas uma janela de oportunidade, que embora se feche depressa, ainda está suficientemente aberta para deixar entrar alguma esperança.



Uma Cunha de cada vez:
Cada uma reduzirá as emissões anuais de carbono em mil milhões de toneladas em 2057.
Energia e Conservação:
• Melhorar a economia dos combustíveis dos carros em 2057 de 8litros/100km para 4lt/100km.
• Reduzir os quilómetros percorridos de cada carro de 16mil para 8mil km/ano.
• Aumentar em 25% a eficiência dos sistemas de aquecimento, refrigeração, iluminação e dos electrodomésticos.
• Melhorar a eficiência das centrais electroprodutoras alimentadas a carvão de 40% para 60%.

Captura e Armazenamento
• Usar sistemas de captura de carbono em centrais de produção de hidrogénio alimentadas a carvão, produzindo combustível para mil milhões de carros.
• Captura em centrais de combustíveis sintético abastecidas a carvão para produzir 30 milhões de barris/dia.

Combustível com Menos Carbono
• Substituir 1.400 grandes centrais a carvão por centrais a gás natural.
• Abandonar o consumo de carvão e triplicar a produção de energia nuclear.

Renováveis e Bioarmazenamento
• Aumentar a energia eólica para 25 vezes a sua capacidade actual.
• Aumentar a energia solar para 700 vezes a capacidade actual.
• Aumentar 50 vezes a produção eólica para fabricar hidrogénio para carros alimentados por células de combustível
• Parar a desflorestação por completo. • Estender as técnicas de lavoura e conservacionista a todos os terrenos (a lavoura normal liberta carbono ao acelerar a decomposição da matéria orgânica).




[1] Dados www.epa.gov: U.S. Environmental Protection Agency.






Bibliografia:

PACALA, Stephen; SOCOLOW, Robert; Stabilization Wedges: Solving the Climate Problem for the next 50 years with Current Technologies in Science Magazine, Vol. 315






Susana Canas

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