E se Portugal aquecer?
Estima-se que daqui a 50 anos haja uma subida generalizada da temperatura média. Se a temperatura em Portugal aumentar 4 graus, o consumo de energia nos edifícios vai disparar em virtude das necessidades de arrefecimento. Um ponto assente é que as necessidades energéticas não serão sentidas de igual forma em todo o país. Em Lisboa estima-se que os consumos energéticos poderão aumentar 50%. Já o Porto ficará exactamente na mesma com a diminuição das necessidades de aquecimento contra o aumento das de arrefecimento.
O sector energético tem uma característica única: ele é fonte dos problemas e sofre os impactos das alterações climáticas. O aumento de calor previsto para o país terá como principal consequência o aumento do consumo de sistemas de arrefecimento.
Antes de se avançar para um modelo de duplicação das emissões de CO2 era preciso elaborar um perfil da climatização dos edifícios em Portugal.
Os maiores impactos deste aquecimento serão sentidos no consumo de electricidade e no consumo de combustíveis fósseis nos edifícios devido ao aumento das necessidades de arrefecimento da temperatura exterior e da bombagem de água. Não é novidade que as necessidades de arrefecimento em Portugal são combatidas sobretudo através do ar condicionado ou aquecimento eléctrico. Mas podemos apontar ainda outras opções como o aquecimento a gás ou outros combustíveis no caso do aquecimento central ou até mesmo a lenha. Em virtude de maiores solicitações para o arrefecimento será necessário recorrer à construção de mais centrais de base.
De acordo com o relatório do SIAM sobre os Efeitos Potenciais das Alterações Climáticas em Portugal, se compararmos dois modelos representativos, um descreve uma moradia e outro um apartamento, ambos com áreas de construção idênticas, quatro assoalhadas, envidraçados iguais, com uma ocupação média de três pessoas durante 15 horas por dia, é possível chegar a diferentes conclusões quanto aos impactos das alterações climáticas para as várias áreas do país. Assim, na região Norte a duplicação de CO2 implica um aumento significativo dos valores das necessidades energéticas de arrefecimento, bem como um aumento da estação de arrefecimento (vai de Maio a Outubro). Para a região de Lisboa esta tendência é ainda mais acentuada. Na situação 2CO2, as necessidades energéticas mensais para aquecimento são mais baixas e as necessidades energéticas mensais para arrefecimento são bastante elevadas para os meses mais quentes. A região do Algarve tem um comportamento semelhante ao da região de Lisboa, ou seja, verifica-se um aumento significativo das necessidades energéticas de arrefecimento, a redução para valores mais baixos das necessidades energéticas de aquecimento, um aumento da estação de arrefecimento e uma diminuição da estação de aquecimento.
Deste estudo podemos concluir que na região Norte o balanço é praticamente nulo, pois o que se vai aquecer a menos arrefece-se a mais. Nas regiões de Lisboa e do Algarve o balanço é positivo, regista-se um aumento significativo do consumo de energia.
Da duplicação de emissões CO2 podemos retirar outros impactos energéticos. À partida pensava-se que este sistema iria provocar perdas no transporte de electricidade, bem como uma diminuição da produção hidroeléctrica dada a menor precipitação e uma maior evapotranspiração dos reservatórios, tal como uma maior competição da procura de água. No entanto, estudos mais pormenorizados demonstram que vai ocorrer a situação inversa: a precipitação de Inverno será um pouco mais elevado no Norte do País o que irá permitir uma maior produção de hidroelectricidade, o que demonstra que nem todos os impactos são nefastos!
As alterações climáticas em Portugal têm reflexos em variados sectores. No âmbito dos recursos hídricos irá ocorrer uma diminuição da oferta da água e o correspondente aumento da procura. Por outro lado, Portugal também é afectado pela diminuição dos caudais vindos de Espanha, que pode ser compensada por uma gestão mais racional dos recursos bem como a possibilidade de precipitação a norte. Ao nível da temperatura vamos assistir a um aumento das ondas de calor, à diminuição do frio e à concentração de precipitação em poucos meses. A saúde humana também sentirá os seus reflexos pela possibilidade do aumento das mortes associadas a doenças do aparelho respiratório e cérebro-vascular, em virtude das ondas de calor. Os níveis do mar também irão sofrer transformações: prevê-se a subida das águas do mar entre dez a 95 centímetros, o afundamento da Placa Ibérica em 5 centímetros nos próximos 50 anos. Também podemos assinalar os graves problemas na erosão costeira, dos estuários com mais água salgada ou as alterações ao nível das correntes e modificações das cadeias alimentares.
Cabe aos políticos mudar este cenário!
Fonte: SIAM
Etiquetas: Ana Almeida, nº 13502, subturma 1