Investigadores debatem em Lamego como defender o lobo perante a crescente instalação no seu território de parques eólicos, barragens ou auto-estradas.
Três centenas de lobos sobrevivem em território português, um número que poderá reduzir se estes animais forem "esquecidos" no planeamento da construção de auto-estradas, parques eólicos e barragens, alertou hoje o presidente do Grupo Lobo.
Francisco Petrucci-Fonseca considera haver uma grande preocupação com o impacto que estas grandes infra-estruturas têm nos territórios habitados pelo lobo ibérico, uma vez que levam a que "a sua área de distribuição esteja mais fragmentada".
Com o objectivo de debater as medidas a tomar para que estes grandes prededores carnívoros possam viver ao lado do progresso, realiza-se sexta-feira, em Lamego, a conferência "Grandes Infra-Estruturas & Conservação do Lobo", integrada numa reunião de trabalho do Projecto Life Coex, que junta representantes de Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Croácia.
Segundo o presidente do Grupo Lobo, estas infra-estruturas "estão a ter um impacto no território que o lobo ainda ocupa", e deu como exemplo a região de Vila Real, devido à construção de estradas e parques eólicos.
"Há alcateias na zona de Vila Real que já desapareceram nos últimos dois anos. E a construção das barragens do Tâmega será mais um problema", avisou.
Por isso, afirmou que o novo desafio para a conservação do lobo é que estas novas infra-estruturas tenham em conta a sua existência, criando, por exemplo, no caso das auto-estradas, passagens superiores ou túneis que "aumentem a permeabilidade" a esta e outras espécies, como corços e veados.
Francisco Petrucci-Fonseca contou que, a Norte do Rio Douro, duas auto-estradas "já incorporaram muito do conhecimento que existe sobre os lobos", mas que estes foram esquecidos em muitas obras.
"Os Governos deviam ter acautelado estas situações mais a tempo. E, muitas vezes, as coisas que se fazem é o mínimo que se pode fazer", lamentou.
No que respeita aos parques eólicos, o dirigente do Grupo Lobo defendeu "a renaturalização dos caminhos criados para a sua construção", uma vez que se situam em serras "onde os lobos antes encontravam abrigo, porque as pessoas não iam para lá".
Francisco Petrucci-Fonseca lembrou que "os homens é que se estão a intrometer no habitat dos lobos" e, por isso, há que planear as obras sem os esquecer.
Na Península Ibérica haverá ainda cerca de 2.000 lobos, 300 dos quais em Portugal, na região fronteiriça dos distritos de Viana do Castelo e de Braga, província de Trás-os-Montes e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda.
"Estamos muito preocupados com a população de lobos a Sul do Douro", disse o presidente do Grupo Lobo, explicando que a grande maioria vive a Norte do Douro, havendo apenas "20 a 30" a Sul, nomeadamente nas Serras de Arada, Montemuro e Leomil, até aos concelhos de Penedono e Trancoso.
No entanto, no século XIX os lobos eram numerosos em Portugal, distribuindo-se por todo o território nacional, sendo que, em 1910, já se notava o declínio.
"Apesar do actual estatuto de conservação do lobo, os estudos até agora realizados sugerem que a população lupina em Portugal continua em regressão", alerta o Grupo Lobo no seu sítio da Internet, justificando que as causas do declínio do lobo são a perseguição directa, o extermínio das suas presas selvagens (veado e corço) e, actualmente, a fragmentação e destruição do habitat e o aumento do número de cães abandonados que com eles competem na procura de alimento.
O Grupo Lobo é uma associação não governamental criada em 1985, que luta pela conservação do lobo e do seu ecossistema em Portugal, contando actualmente com 1.250 associados.
in "Expresso" (17 Abril 2008)
Etiquetas: Joana Torres Fernandes (n.º 13931)
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