O clima é um dos mais complexos sistemas para ser modelado matematicamente. Repousa na interacção entre o oceano e a atmosfera, nas trocas de energia, no papel das nuvens, no modo como a Terra absorve a radiação solar. A simples variação dos parâmetros orbitrais da Terra pode provocar um aumento ou diminuição acentuada da radiação solar e isso explica alguns períodos de grande aquecimento ou de intensa glaciação.
Alguns cientistas são cépticos quanto à possibilidade de estarmos a assistir a uma mudança estrutural do sistema climático e defendem que estamos perante alterações pontuais como outras que já existiram no passado. A opinião destes cientistas deve ser respeitada e debatida, embora existam hoje evidências de que estamos perante uma mudança estrutural com grandes probabilidades de ser induzida pelo Homem: os eventos extremos são mais frequentes, alguns dos anos mais quentes de sempre ocorreram na última década, o degelo dos glaciares aumenta em cada ano e a espessura das calotes polares diminui.
O debate tem-se centrado nas incertezas da ciência. Entretanto o relatório de Nicholas Stern, realizado em 2006 para o governo inglês, mudou o foco da discussão e trouxe-a para o terreno da economia. Stern mostrou que o custo da inacção pode ser dramático: o PIB global pode diminuir 20% nas próximas décadas se nada for feito de imediato, o que lançará na pobreza vastas regiões do planeta. No entanto, se actuarmos já, para salvar esses 20%, gastaremos apenas 1%.
É desejável que o debate continue, mas ele não nos deve desviar do essencial: agir. Agir, tendo em mente quatro questões:
A primeira: reconhecer que, até hoje, fizemos muito pouco e que são necessárias novas políticas e novos planos de acção. Apesar da retórica, Portugal nada fez para descarbonizar a sua economia.
A segunda questão: a redução das emissões só terá êxito se estiver ligada a mecanismos de mercado que a promovam. O sistema europeu de comercialização de emissões é um começo, mas não basta. É necessário refiná-lo e baseá-lo numa maior transparência dos dados e do mercado. Além disso, ele tem de ser estimulado por políticas públicas empenhadas. É preciso criar um mercado do ambiente que abranja a água, a biomassa, os resíduos, a reciclagem e os esgotos. A redução de emissões não penaliza necessariamente a economia, estimula-a e é viável do ponto de vista da relação custo/benefício.
A terceira questão: é preciso actuar ao nível dos maiores centros poluidores, ou seja, as centrais térmicas e eléctricas e o sistema de trasportes. A conversão das centrais de carvão para gás, o aproveitamento do potencial hidroeléctrico, o reforço da utilização das energias renováveis, os programas de poupança e eficiência energética, a aposta na tecnologia e na inovação do sistema de transportes, bem como a sequestração do carbono e as nanotecnologias, são imperativos.
A quarta questão: é preciso mobilizar os cidadãos. Vivemos hoje num mundo em que a economia é global e o governo é local. Esta contradição acentua a crescente irrelevância política das instituições que nasceram depois da II Guerra Mundial. Elas não funcionam e os governos também não. Temos um problema de governação global do planeta. Temos de mudar a forma como produzimos e utilizamos a energia para suster a ameaça climática. É preciso reestruturar o funcionamento da economia e isso só será possível com cidadãos mobilizados e esclarecidos. Temos de erradicar a velha mentalidade segundo a qual os bens públicos - o ar, as florestas, a água, o clima, a qualidade de vida - são de todos, quando se trata de os usarmos, mas de ninguém, quando se trata de cuidar deles.
A questão das alterações climáticas está na ordem do dia. Como responder a este problema? Reduzir muito e rapidamente as emissões tende a desacelarar a economia. Porém, reduzir pouco e lentamente tem, no futuro, um efeito semelhante porque implica custos acrescidos.
Estamos perante um desafio à nossa capacidade de solidariedade intergeracional. Seremos capazes de juntos caminhar para um mundo sustentável ou a nossa herança para as gerações vindouras será um mundo cada vez mais insustentável?
Cabe a todos e a cada um contribuir para que o mais belo planeta do sistema solar ganhe o futuro.
Lara Rodrigues, Subturma 2
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