A utilização de biodiesel na frota de carros do lixo, no Concelho de Sintra, atingiu em 2007 os 29 mil litros, 5 por cento do combustível utilizado para o milhão e meio de quilómetros que as 53 viaturas percorreram.
Dos 567.000 litros de combustível utilizado pelas 53 viaturas, 20.000 resultam da produção de biodiesel através de Óleos Alimentares Utilizados (OAU), projecto inovador que a Higiene Pública Empresa Municipal (HPEM) de Sintra abraçou em 2003, com a colocação de oleões em diversas escolas do concelho de Sintra.
Em 2005 esta empresa municipal abriu o primeiro posto de biocombustível a nível nacional e implementou a recolha de óleos alimentares utilizados no sector doméstico, existindo actualmente ao dispor da população de Sintra 23 oleões instalados na via pública das diferentes freguesias.
A recolha destes óleos nas cantinas das escolas do concelho e nos 23 oleões ao dispor da população permitiram, em 2007, a transformação de 37.370 litros de OAU em biodiesel na unidade fabril Diesel Base, em Setúbal.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da HPEM, Rui Caetano, este projecto tem como objectivos "reduzir as emissões de gases com efeito estufa como o dióxido de carbono"e diminuir "a quantidade de óleos e gorduras nas águas residuais", não sendo por isso de estranhar que os Serviços Municipalizados de Agua e Saneamento (SMAS) de Sintra sejam um dos parceiros do projecto.
Mas o cumprimento da legislação comunitária foi também um dos principais incentivos que levaram à criação deste projecto, nomeadamente o compromisso assumido de redução das emissões de Gases com Efeito de Estufa com a ratificação do Protocolo de Quioto em 2002 e a Directiva Comunitária 2003/30/CE de 8 de Maio de 2003.
Esta directiva prevê que os Estados Membros assegurem a colocação nos seus mercados de uma proporção mínima de biocombustíveis de 5,75% de toda a gasolina e de todo o gasóleo colocados no mercado até 31 de Dezembro de 2010, meta a qual a HPEM "pode contribuir com a replicação deste projecto".
Mas a utilização de 20.000 litros de biodiesel na frota de carros de recolha de lixo não tem grande repercussão no orçamento desta empresa municipal que, em 2007, poupou 2.900 euros com esta operação, dado que, segundo Rui Caetano, "o biodiesel custa dez cêntimos a menos que o preço de venda ao público do gasóleo".
"O objectivo é um ganho ecológico sem custos e sempre são 20 000 litros de gasóleo que não são usados. Quanto mais óleo conseguirmos retirar menos gordura temos nas águas e quanto mais biodiesel utilizarmos mais diminuímos as emissões de dióxido de carbono", disse Rui Caetano.
Segundo este responsável, o biodiesel "é menos poluente que os combustíveis derivados do petróleo pois o dióxido de carbono que liberta é o equivalente àquele que os cereais receberam durante o seu tempo de vida".
No entanto, para Rui Caetano o biodiesel dificilmente poderá ser uma alternativa "em larga escala aos derivados do petróleo", dado que "a quantidade de óleo utilizado actualmente no mundo não é suficiente para a sua produção em grandes quantidades".
"É uma alternativa para uma percentagem visto que são as quantidades que conseguimos retirar dos óleos usados. A utilização de óleos não utilizados seria um concorrente directo da alimentação porque são feitos à base de cereais", disse o responsável.
Para Rui Caetano, "o ideal seria produzir combustível a partir de lixo", lembrando o filme "O regresso ao Futuro", no qual o veículo conduzido pelo actor Michael J. Fox era movido a lixo."Não é teoricamente impossível".
Etiquetas: Daniel Almeida